Os transtornos do sono e queixas relacionadas ao ciclo sono-vigília acometem até 50% dos indivíduos com mais de 60 anos, resultando em piora na qualidade de vida e no aumento de morbidade e mortalidade1. Em idosos com demência, essas queixas podem ser ainda mais comuns. Recentemente, uma revisão apontou que até 35% dos pacientes com doença de Alzheimer, causa mais comum de demência, podem apresentar um transtorno de sono. Conjuntamente com o prejuízo cognitivo, alterações de sono como redução do tempo e fragmentação do sono, inquietação e agressividade durante a noite podem gerar dificuldades e sobrecarga aos cuidadores e altos custos para a sociedade.
Os mecanismos relacionados aos transtornos de sono em idosos com demência ainda não estão totalmente claros, e vários fatores podem estar envolvidos como o ambiente, genética e outras doenças associadas. Entre os transtornos do sono, a síndrome das pernas inquietas (SPI) e os movimentos periódicos dos membros (MPM) devem ser investigados sistematicamente em virtude de sua alta prevalência na população em geral, especialmente em idosos.
A prevalência da SPI na população aumenta com a idade e é estimada em 5,5% na população geral e em até 8,7% na população idosa, sendo mais frequentemente encontrada em pessoas do sexo feminino. No Brasil, Dantas et al.6 encontraram a prevalência de 15,6% em idosos internados em instituições de longa permanência. MPM podem ser encontrados em 5% a 11% dos adultos7,8 e em até 88% dos pacientes com a SPI, além de ocorrerem com mais frequência em mulheres, com alta ingesta de cafeína e na presença de estresse e transtornos mentais.
A SPI é uma condição que consiste em uma urgência em mover as pernas e que usualmente ocorre com outras sensações anormais como queimação, repuxamento ou como se existissem “insetos rastejando” dentro das pernas. Essas sensações são aliviadas pelo movimento e possuem uma apresentação circadiana piorando à tarde e à noite com alívio significativo pela manhã, independentemente da quantidade de movimento.
Além da idade avançada, a SPI está associada a obesidade, hipertensão arterial sistêmica, roncos, alta ingesta de bebidas alcoólicas, tabagismo e uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina8. Nas doenças neurodegenerativas como doença de Parkinson, doença de Alzheimer e demência com corpúsculos de Lewy, é esperado que a prevalência de SPI esteja aumentada, visto que que essas condições estão associadas a perdas neuronais progressivas e alterações em neurotransmissores como a dopamina.